“Ao nascer, a mãe o mergulhou no Estige, o rio
infernal, para torná-lo invulnerável. Mas a água não lhe chegou ao calcanhar,
pelo qual ela o segurava, e que assim se tornou seu ponto fraco - o proverbial
"calcanhar de Aquiles".
São frequentes
as mortes por afogamentos em nosso Estado. Elas ocorrem no litoral (praias,
mar), e em todas as regiões onde há arroios, rios, lagos, açudes. O período de
maiores ocorrências de mortes é o verão. E, por mais incrível que pareça, também
são muitos os casos de mortes por afogamento nos trechos do Rio dos Sinos em
que existem as “prainhas”. Mesmo em pontos mais poluídos do Rio dos Sinos, a
partir do encontro deste com o rio Paranhana, em dias mais quentes, são muitos
os populares que se banham em impróprias águas. E por que afinal pessoas
adultas, por vezes levando seus crianças e adolescentes, se arriscam em águas
impróprias para o banho e incompatíveis com parâmetros de saúde e de segurança?
Prolongadas
estiagens e calor intenso agravam e aceleram a degradação da qualidade da água
do Sinos em um de seus trechos mais críticos, no seu curso capilé, bem na
região central de São Leopoldo. Ao mesmo tempo, esse rio parece exercer tal
magnetismo que “justifica” ou dá vazão a que sujeitos deixem suas frágeis
existências esgotarem-se em seus leitos.
Isso em um canal de extensão não superior a 3 km, onde outrora pulsava a
vida social e afetiva de gerações de leopoldenses e novohamburguenses, isso
seguramente desde 1824. Aliás, salta aos olhos o fato de boa parte das mortes
ocorrer justamente no ponto de desembarque dos primeiros imigrantes alemães,
antes de se destinarem à Feitoria. A cada ano, nesse mesmo trecho e em outras
prainhas, se acumulam lápides ao descuido, à ausência ou desuso da razão.
As mortes
ocorrem não somente em águas escuras e profundas. Ainda que estejam vazão e
níveis baixos, o Rio dos Sinos reserva, até mesmo a nadadores e salva-vidas
profissionais, armadilhas que capturam os frágeis organismos humanos. Lodo,
galhos, resíduos acumulados e buracos não percebidos são alguns dos fatores de
risco. E assim, sujeitos se vão do cenário familiar em impróprias águas,
prematura e inconsequentemente. Vale lembrar que as águas do Sinos em suas
Terras Baixas não se adequam a condições mínimas de balneabilidade, menos ainda
à vontade daqueles que, ainda que inconscientemente, negam a sua natureza
humana, ou seja, sua fragilidade e transitoriedade.
Seria
importante que os municípios e outros órgãos de Estado atuassem na
identificação dos locais de maior risco e na orientação à população, a fim de
minimizar-se os riscos e as perdas de vidas em águas que são impróprias para o
banho, ainda que seu entorno possa oferecer alguma beleza e remeta a um passado
que não existe mais. E, assim, crie-se uma perspectiva de futuro para o uso das
águas e dessas prainhas.
*Consultor, especialista em administração pública.
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