domingo, 22 de março de 2015

22 de março, Dia Mundial da Água (artigo de opinião)


Autoria: Julio Dorneles*

 

Poderia ser uma obviedade dizer que sem água não há vida. Afinal, todos sabemos. Mas há pelo menos dúvidas legítimas se realmente estamos vivendo um grau tal de consciência acerca da água em nossas vidas que possa ser motivo de comemoração. É fato, sem água não há: abastecimento, agricultura, pecuária, mineração, tecnologia de precisão, economia sustentável, energia capaz de manter as cidades funcionando... mas sua falta também inviabiliza o amor, o nascimento, a cooperação, a alegria, a justiça.

De toda forma, aqui chegamos novamente ao 22 de março, dia mundial da água. Neste ano, em especial, encerra-se a chamada “Década da água 2005-2015”, conforme estabeleceu a Organização das Nações Unidas (ONU). Em tese, esses dez anos devem provocar tamanha reflexão e um conjunto de planos, programas e ações que expressem uma verdadeira mudança de cultura em relação à crescente escassez de recursos hídricos. Percebe-se que nesses últimos anos houve todo tipo de evento que exige da sociedade, das comunidades, das empresas, dos órgãos de governo e das companhias de abastecimento um engajamento diário no cuidado da água. Houve de tudo: mortandades de peixes, cheias, estiagens e secas prolongadas, desabastecimento, impactos sobre a geração e fornecimento de energia. Mas, sobretudo, com a crise hídrica na região Sudeste do Brasil, vimos o quanto ainda mais reagimos do que agimos preventivamente diante dos eventos extremos relacionados à água.

Diante de eventos extremos como a estiagem prolongada ou mesmo a seca, há uma gritaria generalizada sobre a falta de investimentos em ampliação da capacidade de captação ou produção de água e sua reservação (armazenamento), e isso é verdade. São Paulo tornou-se exemplo inequívoco disso. Mas antes ainda, é necessário que se multipliquem os investimentos em preservação de matas e florestas, bem como no mapeamento e na proteção absoluta de nascentes, pois são estas as verdadeiras fontes “produtoras” de água. Trata-se, portanto, de perceber que devemos considerar o tema da água como um assunto de segurança. Sim, uma questão de segurança hídrica, de garantir que a fonte da vida e da economia não vai secar.

Olhando um pouco mais para nossas regiões e bacias hídricas (por ex.: Rio dos Sinos e Rio Caí), observa-se avanços e recuos intermitentes nas políticas públicas relacionadas aos recursos hídricos. Por momentos parece que consolidamos planos, programas e ações, mas logo ali adiante são abandonados ou postos de lado, em segundo plano, como que esperando-se a próxima tragédia para que se volte às políticas permanentes. Nossas cidades trabalham com a perspectiva de crescimento populacional e econômico contínuo, mas será que os gestores e os atores econômicos estão pensando na água necessária para o crescimento sustentável?

*Consultor, especialista em administração pública. Foi diretor-executivo do Pró-Sinos e diretor técnico da Corsan.
 
 


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