Por Julio Dorneles*
Com 14 meses da chegada da
Pandemia Covid-19 ao Brasil vivemos uma tragédia sem precedentes em termos de
vítimas fatais. As mortes são a expressão mais devastadora. Os efeitos da
Pandemia são múltiplos e conexos às perdas de vidas, causando estresses
recorrentes em todo o tecido social, mas principalmente no sistema de saúde e
em especial nas estruturas hospitalares. Além dos infectados pela Covid há
estresse e represamento ainda não dimensionados para milhões de brasileiros que
padecem de outras patologias, que tiveram tratamentos pausados ou com acesso
dificultado. E, à medida que a vacina não chegava e a doença avançava, o
impacto econômico no período foi igualmente devastador. Importa lembrar que o
país já vinha numa recessão econômica no período que antecedeu a pandemia, esta
veio a aprofundá-la. Nesse sentido, caso superado todo o atraso brasileiro
nesse período em razão do negacionismo reinante, atingindo-se em algum momento
a vacinação em massa, estima-se uma recuperação econômica para o ano de 2024.
É absolutamente impactante o
Brasil, com uma população estimada em 214.3 milhões, ter chegado da maneira que
chegamos a quase 400 mil brasileiros mortos por Covid-19 desde o registro do
primeiro caso de contágio em 26 de fevereiro e do primeiro caso de brasileiro
morto em março do ano passado. Não há precedentes no Brasil para tamanha
tragédia sanitária. Há 103 anos houve a chamada gripe espanhola que matou 30
mil brasileiros, sendo que a população era estimada em 28,9 milhões. Esta foi
igualmente em seu início relativizada em seu potencial agressivo pelo governo
federal e por uma grande parte da população. Mas como admitimos uma postura
negacionista tão devastadora, a ponto de um presidente da República ter
publicamente e constantemente relativizado a doença e desautorizado a compra de
vacinas? Isso ainda será objeto não somente de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) mas de muitas teses no campo das ciências humanas.
Mas nesse Brasil há uma minúscula
parte que é um verdadeiro microuniverso utópico. Trata-se da cidade de Serrana,
com um pouco mais de 45 mil habitantes, localizada na Região Metropolitana de
Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo. Ali ocorreu em um período de
aproximadamente três meses a vacinação para Covid-19 atingiu 60% da população.
Ou seja, Serrana tornou-se um laboratório de experimentação da eficácia da
CoronaVac, através de um estudo clínico dirigido pelo Instituto Butantan.
Aliás, um parêntese, a CoronaVac responde por 90% da cobertura vacinal nesse
momento no Brasil. Nessa Serrana brasilis veremos os resultados
absolutamente positivos da vacinação em massa que, se priorizada pelo Governo
Federal, poderia ser uma realidade para todo o país e não para tão somente essa
pequena parcela utópica, a bem-aventurada Serrana.