sexta-feira, 8 de abril de 2022

A cara no fogo



Julio Dorneles*, 29 março/22
Disse Maquiavel em uma passagem de O Príncipe: “Os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imediatas que aquele que engana sempre encontrará quem se deixe enganar.” Trata-se O Príncipe da obra mais difundida de Maquiavel, mas igualmente incompreendida e pouco estudada por estas bandas do mundo. A citação acima, ainda que retirada do contexto, guarda com o conjunto da obra uma perfeita harmonia. Como se sabe, nela, Maquiavel trata sobre a arte de governar e das relações de poder que se estabelecem entre o governante (O Príncipe) e o povo.
Desgraçadamente nosso governante máximo do momento não leu O Príncipe, tampouco aparenta ter lido qualquer outro livro. Pois, quando muito, diante de certas situações um tanto quanto constrangedoras, cita aqui ou acolá um versículo da Bíblia, que igualmente parece não ter sido lido em seu contexto. Igualmente pertence a sua conduta rotineira no exercício do governo, falando diretamente para “o povo”, referir bordões, frases decoradas ou expressões típicas do senso comum, sempre, de forma errática, descontextualizadas. E foi assim que, diante do vazamento de provas incontestáveis de corrupção exercida dentro do Ministério da Educação, pelo seu próprio ministro, que o presidente da República saiu com essa: “o fulano eu conheço, ponho minha cara no fogo por ele”.
Poderia ter sido uma expressão totalmente isolada, mas não foi. É da conduta errática do presidente esse tipo de declaração. Ele fala qualquer bobagem a fim de distrair quem quer ser enganado. O presidente já sabia o que seu ministro havia feito de errado e ainda assim disse que colocaria a cara no fogo por ele. Nada mais típico. Não é racional colocar a cara no fogo. Você sabe que vai se queimar. Por qual motivo você colocaria a cara no fogo? Numa atitude extrema você até pode colocar não a cara, mas a mão no fogo. Você coloca a mão no fogo para salvar uma vida, uma filha, um bem de valor inestimável, mas jamais nesse sentido figurado utilizado pelo presidente, ao defender quem sabidamente está afundado na lama. Pois então presidente, dessa o senhor saiu com a cara totalmente queimada.
*Doutorando em ciências, mestre em desenvolvimento regional e especialista em administração pública.
Imagem: Flor Fogo Arte (Pixabay

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