domingo, 12 de agosto de 2012

Artigo de Marcos Rolim, publicado na ZH deste domingo

Fuga do Campo 14 - Marcos Rolim

Há alguns lugares especialmente aterradores no mundo, mas nenhum que
se compare à Coreia do Norte. Quem ler o recém lançado “Fuga do campo 14”,
de Blaine Harden (Intrínseca, 230 pg.) 
chegarará a esta conclusão. O livro conta a história do jovem Shin Dong-hyuk 
que é,  tanto quanto se sabe, o único prisioneiro do campo de concentração 
nº 14 que obteve sucesso em uma fuga. Há dezenas de milhares de nortecoreanos
que fugiram e alguns que conseguiram escapar dos campos, mas só Shin 
conseguiu fugir  do campo 14, o pior de todos os campos. Ali são instalados
os inimigos políticos do regime. Não apenas os  adversários, mas também seus
familiares. E ali ficam, também, as crianças nascidas no campo, para que as penas –
definidas sem julgamento ou acusação formalizada - se prolonguem em obediência à lei de 1972, de Kim Il Sun:
 “Inimigos de classe devem ter sua semente eliminada por três gerações”.

As crianças nascidas no campo 14 são encaminhadas a um internato. São, então, ensinadas a delatar os 
familiares, origem de todo o mal que sofrem. Nos internatos, perguntas não são permitidas e as crianças
apanham bastante. Algumas vezes são mortas ou aleijadas pelas surras que recebem dos bandidos que se
apresentam como “professores”. Os internos nos campos lutam por grãos de milho e ficam felizes quando
encontram um rato para assar (gatos e cães praticamente não existem mais em muitas regiões da Coreia do
Norte, porque foram comidos). Shin delatou sua mãe e seu irmão quando ouviu uma conversa deles sobre
fuga. Assistiu, então, ao enforcamento da mãe e ao fuzilamento do irmão. Era uma criança na época e se
sentiu orgulhoso de ter cumprido com seu dever. O mundo para Shin era o campo. Para ele, não havia o 
sentido da perda da liberdade; nem mesmo a ideia de perda. Nunca lhe pareceu degradante lamber um resto
de sopa no chão ou delatar um amigo por uma porção maior de repolho. Shin queria apenas sobreviver. 
Quem ler o livro, saberá como e porque Shin mudou e passou a sonhar com a fuga.

A Coréia do Norte é a primeira dinastia comunista da história. O “grande líder” – sempre há um “guia infalível”
no comunismo – foi Kim Il Sung. Seguido por seu filho Kim Jong Il e, agora, pelo neto Kin Jong-Eun. 
O grande líder dividiu o País em três classes: a classe superior, a classe hesitante e a classe hostil. 
O pertencimento se dá por linhagens, de forma que o regime é comunista, monárquico e feudal. O resultado
deste manicômio é uma tragédia infinita. A Coreia do Norte tem renda per capita inferior ao Sudão, ao Congo
e ao Laos. A fome é uma constante, o País vive na Idade Média e a elite de burocratas tem uma cidade só 
para ela – a capital, Pyongyang. Os ditadores moram em palácios, vivem cercados por todo o luxo do mundo
ocidental e manejam um arsenal nuclear.
É preciso denunciar a dinastia Kim como um regime de assassinos. O Brasil tem a obrigação de assumir uma
posição clara nos fóruns internacionais sobre as violações aos direitos humanos em todos os lugares do mundo,
a começar pela Coreia do Norte. E os brasileiros não podem esquecer que o PCdoB apoia o regime da
Coreia do Norte.

A cara no fogo

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