domingo, 13 de maio de 2007

DICAS DE HISTÓRIA - Conceitos de História Medieval

Temos sempre que estar atentos aos conceitos em História pois eles exigem uma boa memória histórica e, o que é mais difícil e complexo, saber interpretar.
VAMOS LEMBRAR ALGUNS CONCEITOS (retirados do livro do Prof. Hilário Franco Júnior: A Idade Média : Nascimento do Ocidente, p. 190-192), com algumas adaptações:

Ban*: no começo da Idade Média, o poder de comando do chefe militar. Depois, o conjunto de poderes regalianos (de rei) que a partir do século X foi confiscado e explorado por grandes latifundiários [senhores feudais]: julgar, punir, taxar.

Comuna: associação juramentada dos habitantes de uma cidade para fazer frente ao senhor local, laico [leigo] ou eclesiástico [religioso]. Expressão das transformações econômicas (comércio em expansão) e sociais (burguesia) que ocorriam desde o século XI, as comunas de um lado negavam o mundo feudo-clerical, mas de outros estavam perfeitamente inseridas nele.

Cristandade ocidental: termo que designa o conjunto dos territórios cristãos ocidentais [católicos romanos] e, portanto, neles, toda uma civilização. A tomada de consciência dessa identidade coletiva veio a partir do contato com um referencial externo [ao seu "mundo"], o Islã, em princípios do século VIII. Desde então as relações com os cristãos orientais [bizantinos/grego-ortodoxos] foi se deteriorando, à medida que aumentava por parte dos ocidentais a percepção de suas próprias especificidades.

Escatologia: doutrina relativa ao destino último do homem [ser humano] e do Universo. Para a mentalidade medieval, o tempo escatológico era o do retorno final de Cristo (Parusia], que poria fim às coisas terrenas e , portanto, à História. As expectativas e especulações sobre esse fato explicam a imensa atenção medieval dada ao [livro do] Apocalipse (literalmente "revelação"), que profeticamente descreve aquele momento [ ou seja, o retorno de Cristo e o fim deste "mundo"].

Feudo: [um dos conceitos mais difíceis!] a palavra deriva do germânico [língua alemã] fehu, gado, com o sentido de "um bem dado em troca de algo". inicialmente, fins do século IX, era dado pelo poder público (rei, conde) em troca de serviços públicos (guerra, administração). [o Feudo podia ser um lote de terra recebida em doação, ou um direito, título ou cargo que desse algum privilégio]. A partir de fins do século XI, ligado estreitamente à vassalagem, o feudo torna-se um bem privado concedido em troca de serviços privados. Essa concessão (terra, dinheiro, direitos diversos) era feita por um nobre [cavaleiro], intitulado SENHOR [ou Suserano], a outro nobre, chamado VASSALO, em troca essencialmente de serviço militar [segurança, ataque, defesa].

Pousio: prática agrícola que dividia a terra cultivável [do Feudo] em partes (duas no sistema bienal, três no trienal), deixando todo ano, alternadamente, uma dessas parcelas sem cultivo, para que a terra se refertilizasse naturalmente. [as técnicas de adubamento e fertilização do solo eram então desconhecidas na sociedade feudal].

Senhorio: "esta palavra resume todos os meios de que dispõe um senhor (dominus ou senior) para se apropriar do rendimento do trabalho realizado pelos homens sob o seu domínio. Esses meios são complexos: uns têm origem na posse do solo, outros no exercício de um poder coercitivo (ban). Daí deriva a dupla natureza do senhorio: fundiário e banal". [Bonassie, Dicionário de História Medieval].

Servo: tipo de trabalhador difícil de ser definido com precisão, pois variava muito de local para local o elemento que o caracterizava. de acordo com sua origem, fala-se em servidão real que pesava sobre a terra, e servidão pessoal, sobre o indivíduo, ainda que ambas tenham quase sempre se confundido após o século XI. De qualquer forma, ser servo implicava não gozar de liberdade, ter incapacidades jurídicas. Ele podia ser vendido, trocado ou dado pelo senhor, não podia testemunhar contra homem livre, não podia se tornar clérigo, devia diversos encargos [obrigações]. Porém, ao contrário do escravo clássico, tinha reconhecida sua condição humana, podia ter bens e recebia proteção do seu senhor.

Vassalagem: laço contratual que unia dois homens livre, o senhor (dominus, recebedor de fidelidade e serviços nobres, isto é, não produtivos, não servis) e o vassalo (vassalus, termo derivado do céltico gwas, homem, aquele que recebia sustento de outro). Nos séculos VIII-IX prevalecia o vínculo pessoal: alguém recebia uma terra porque era vassalo. A partir do século XI prevaleceu o elemento real: alguém fazia-se vassalo para receber um feudo.


* Lembre-se: da palavra BAN herdamos algumas palavras como BANDO, BANAL e BANALIDADES, contudo, os atuais significados dessas palavras nada têm a ver com os significados delas na Idade Média. Naqueles tempos estavam associados aos poderes do rei, dos nobres e dos senhores feudais e, do outro lado, às obrigações ou encargos dos Servos (camponeses). Hoje algo "banal", por exemplo, significa algo trivial, sem importância ou relevância... algo vulgar, comum.

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