domingo, 26 de agosto de 2007

Artigo de Opinião


Foto do Filme "Diários de Motocicleta"- Diretor: Walter Salles


Nuestra América
Por Julio Dorneles*

Ao contrário do que possam parecer, as características do cenário político latino-americano tão destacadas por analistas apressados das mídias não são nada originais ou inatas a nossa história. Antes, são heranças que persistem na longa trajetória desde o período colonial ao século 21.


Os tipos políticos “Chávez”, “Morales”, “Rafael Correa” ou “Kirshner” são bem comuns em “nuestra América”, mas antes mesmo, já eram recorrentes em outros contextos históricos: em Portugal, Espanha, Itália e por aí a fora. Tipos populistas, autoritários, corruptos, de esquerda ou de direita, não são “privilégios” latino-americanos nem exclusivos da nossa história.


Além disso há outras lideranças atuais que estão muito longe de serem enquadrados em estereótipos midiáticos. Pensemos na trajetória de Lula antes e depois de chegar à presidência do Brasil, ou em Felipe Calderón, no México, ou ainda em Michelle Bachelet, uma mulher à frente de um Chile “conservador”. Como agrupá-los sendo tão distintos entre si e, mais ainda, do grupo referido acima?

O que talvez nem percebamos é que vivemos um momento, do ponto de vista histórico, privilegiado na conjuntura para as relações políticas e econômicas internacionais de nossa América Latina. Basta lembrar do engessamento ideológico que vivemos ao longo da Guerra Fria (1945-1989/91), pós um brevíssimo momento de oxigenação democrática naqueles anos seguintes à Segunda Guerra Mundial. À América Latina, em seu conjunto, não havia outras alternativas que não alinhar-se ou aos EUA ou à União Soviética. Sabemos que, salvo pouquíssimas exceções a maioria submeteu-se às ditaduras militares ou a governos “fantoches” descaradamente manipulados ou “orientados” pelos interesses geopolíticos estadunidenses.

Hoje, entretanto, as alternativas são múltiplas no que se refere às orientações políticas e mesmo no que diz respeito às diretrizes econômicas e de desenvolvimento de tecnologias, comunicações, fontes energéticas, entre outras. Resta-nos portanto escolher entre reproduzirmos estereótipos ou construirmos uma nova história para Nuestra América a partir de nossa autoconsciência.


*Julio Dorneles – Professor de História e especialista em Administração Pública. http://www.juliodorneles.blogspot.com/
- e-mail:
juliodorneles@hotmail.com – fone cel. 51 8176 1970

Nenhum comentário:

A cara no fogo

Julio Dorneles*, 29 março/22 Disse Maquiavel em uma passagem de O Príncipe: “Os homens são tão simplórios e obedientes às necessidades imedi...