domingo, 23 de setembro de 2007

Artigo de Opinião



Renda e Igualdade
Por Julio Dorneles*



Foto: Sebastião Salgado - Terra - MST

Infelizmente o ambiente político nacional tem pouco contribuído para que tenhamos condições racionais para analisarmos a trajetória econômica e social das políticas adotadas pelo Governo Federal desde que o povo brasileiro fez de Lula o presidente (2002). Quando há algum tipo de “análise”, é comum se apegarem a indicadores pouco esclarecedores que têm como referência os altos índices de crescimento ora da economia chinesa ora da Argentina ou Venezuela.



Considerando-se que nos encontramos no segundo mandato de Lula e no 5° ano consecutivo, podemos colher alguns indicadores sólidos de que houve no Brasil uma curva positiva que nos desviou daquele rumo neoliberalizante dos anos 90 do século 20. Em setembro de 2006, dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstravam que os pobres (e os mais pobres entre os pobres), pela primeira vez melhoravam de renda, enquanto que os ricos (e, entre os ricos os mais ricos), estagnavam. Sendo que pela primeira vez havia uma diminuição na desigualdade social. No período então estudado (2001-2004), o Brasil dos 20% mais pobres crescia mais do que 90% dos países do mundo. Em contrapartida, apenas um em cada dez países crescia menos do que a economia dos 20% brasileiros mais ricos. Considerando-se os 10% brasileiros mais pobres, o crescimento anual no período foi 7,2%. A pesquisa Ipea demonstrou o menor índice em três décadas no índice de desigualdade de renda familiar per capita.



Agora (setembro de 2007), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) está revelando a análise que fez dos microdados da pesquisa por Amostra de Domicílios de 2006 (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento da FGV aponta para a manutenção da redução dos índices de desigualdades e de distribuição de renda no país. Segundo a FGV, a proporção de brasileiros situados abaixo da linha de pobreza caiu de 35% para 19% do total da população, ou seja, uma redução de 45% no percentual de pobres em um intervalo de 14 anos (1993-2006). E há um dado mais impactante: houve em 2006 uma redução da miséria no país em cerca de 15%. Sendo este o melhor resultado dos últimos dez anos. Os dados da Pnad, enfim, mostram um crescimento da renda domiciliar per capita (ou seja, já descontado o crescimento da população) de 9,16%.



O que as análises apontam é que estamos muito longe de abandonarmos o topo da desigualdade social mundial mas estamos no caminho certo e fazendo o que tem que ser feito: crescer reduzindo a desigualdade, colocando mais “fermento” (renda) na base social dos mais pobres. O Brasil precisa crescer, mas com distribuição de renda e redução da desigualdade.




*Julio Dorneles – Professor de História e especialista em Administração Pública. www.juliodorneles.blogspot.com
- e-mail: juliodorneles@hotmail.com – fone cel. 51 8176 1970

Observação: para acessar a análise completa:
http://www3.fgv.br/ibrecps/RET3/index.htm. Sítio da FGV.

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