sexta-feira, 5 de junho de 2015

Desenvolvimento humano x concentração – Parte I

Fala-se muito nos dias atuais na necessidade de crescimento econômico: “temos um PIBinho, estamos desacelerando, vivemos uma crise, a economia está num atoleiro”. E, de fato, desde 2008 a economia mundial está apresentando solavancos, quedas, e, quando há algum crescimento, ele vem de modo muito lento. Tão lentamente que, como nos casos dos EUA e dos países europeus, dificilmente recupera as perdas. Em nosso caso (Brasil), passamos muito bem pelo chamado auge da crise e só passamos a apresentar sinais mais claros de que não estávamos imunes a partir de meados do ano passado (no último trimestre PIBs desaceleraram: - 0,7 nos EUA, - 0,3 nos países da OCDE e – 0,2 no Brasil). O PIB é soma (em valores monetários) de todos os produtos e serviços gerados por uma determinada região ou país em determinado tempo (ano). Quando pegamos essa soma e dividimos pela população correspondente àquela determinada região temos o PIB per capita (por pessoa). Quanto maior for o PIB per capita, maior deve ser a riqueza e a tendência de desenvolvimento da região ou país. Isso é uma tendência, não uma verdade absoluta. Também é notável que em países ou regiões onde há concentração excessiva da riqueza e determinadas áreas metropolitanas ou cidades-polo, outras partes apresentam índices muito baixos de produção e as desigualdades podem ser muito acentuadas. Para percebermos isso não necessitamos de muito estudo nem de compararmos os números, por exemplo, da Suécia (na Escandinávia) com os do recém criado Sudão do Sul (no nordeste da África). Basta observarmos o nosso Rio Grande do Sul (RS). Já é um clássico de nossa história econômica e social. Temos regiões de pequenas propriedades (minifúndios), com micros ou pequenos municípios, com presença da indústria, de agricultura familiar, com populações predominantemente de origem alemã e italiana e com as melhores rendas per capita. De outro lado vastas regiões ao sul e a oeste do estado, muito dependentes de atividades agrícolas e pecuárias em grandes propriedades, em municípios antigos, com população dominante de origem portuguesa-açoriana, indígena e polonesa (noroeste do RS), com os piores índices de desenvolvimento humano. Os principais índices que medem o chamado desenvolvimento humano (não só econômico, mas também social) fazem uma mensuração (medida) a partir de indicadores de três grandes blocos: Saúde, Educação e Renda. Esses três grandes conjuntos estão ponderados no Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH (do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD), e no Índice de Desenvolvimento Socioeconômico, o IDESE (da Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser – FEE, RS). Eles podem auxiliar-nos na compreensão da real qualidade de vida para além da medida do crescimento do PIB per capita. *Julio Dorneles é especialista em administração pública e consultor. (este artigo de opinião foi publicado em 05/06/2015, na página 4 do JG (Jornal de Gramado, Grupo Editorial Sinos).

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