terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Aposta contra o SUS - segundo artigo

O primeiro artigo já postado foi publicado nesta última segunda-feira, dia 14 de fevereiro no jornal VS (Grupo Editorial Sinos, São Leopoldo/RS, p. 8).

Abaixo segue a continuação do tema:


Aposta contra o SUS 2



Nessas décadas de existência do SUS, inúmeros foram os planos privados que, assim como surgiram, desapareceram. O SUS permaneceu. Quem está hoje vinculado a qualquer plano privado pode ir dormir coberto por atendimento e acordar sem ele. São inúmeros os exemplos, incluindo-se alguns de marcas “sólidas” em planos de saúde suplementar. E, não podemos esquecer, 90% dos brasileiros não têm condições de pagar as mensalidades de planos privados que efetivamente garantiriam, além de internação hospitalar, uma cobertura completa para atendimentos de alta complexidade.

Quando um cidadão seja qual for sua classe, religião, cor de pele, sexo ou ideologia sofre um grave acidente numa rodovia, ou quando precisa-se de transplante é o SUS que lhe socorre. Tratamento em hemodiálise, oncologia..., é com o SUS. Nenhum plano privado, seja qual for, chega sequer perto da quantidade de serviços prestados pelo SUS.

Mas também é verdade que o SUS tem muitos problemas que são compartilhados com os planos privados e multiplicados em razão de seu caráter universalista. Faltam profissionais especializados em todas as áreas e, em especial, médicos em inúmeras especialidades. Isso é verdade também para os planos privados que atendem menos usuários e, portanto, apresentam em menor escala esses problemas. Mais problemáticos ainda para o SUS que atende a todos. Também falta à gestão do SUS profissionais qualificados na administração da saúde. Falta ao SUS gestores competentes e eficazes, que estabeleçam e atinjam metas de quantidade e, principalmente, de qualidade.

Além disso tudo, há outro drama comum ao SUS e aos planos privados. Trata-se da formação dos profissionais de saúde e, em especial, de médicos. Talvez pressionadas pelas tecnologias, pela evolução das especialidades e, quiçá, dos próprios mercados da saúde, as faculdades de medicina parecem não formar mais médicos com uma boa e sólida formação geral em saúde. Vivemos de uma medicina que não serve à saúde da população, mas à doença. É a medicina da alta especialização. Médicos que não sabem distinguir um estômago de um fígado, em muitos casos não estão preparados para diagnosticar uma anemia ou uma insuficiência cardíaca em uma simples anamnese e exame efetivo do paciente durante a consulta. Precisa-se dezenas e dezenas de exames clínicos de alta complexidade e uma dezena de outros especialistas. É a medicina do “Ao”. Ao especialista nisso, nisto ou naquilo, e é necessário reuni-los todos para chegarmos a um diagnóstico efetivo, sem falar no tratamento a ser prescrito. Mas isso já é assunto para um outro artigo.



* Julio Dorneles é professor, especialista em administração pública e diretor executivo do Pró-Sinos. Foi Secretário Municipal de Saúde e diretor administrativo do Hospital São Camilo.

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