quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aposta contra o SUS

A partir de hoje, publicarei uma série de artigos analisando a situação do sistema de saúde pública no Brasil e seus aspectos mais importantes voltados ao interesse público e à administração da área da saúde, com seus fortes impactos sobre as contas municipais. A publicação dos artigos em outros meios eletrônicos ou impressos está desde já autorizada, desde que referida a fonte/autoria e sua localização original na web.


Aposta contra o SUS
por Julio Dorneles*



Ganhou impressionante destaque na mídia uma séria aposta contra o SUS. Matérias especiais na TV, em jornais de grande circulação regional e nacional, nas rádios, na net, enfim, por onde foi possível, atacou-se duramente as mazelas do SUS. Mas a questão não analisada é: a saúde no Brasil é o caos ou isso seria se justamente não existisse o SUS. Além disso, de um modo geral, muitas matérias apostaram no acesso de novas camadas sociais a planos de saúde suplementar, privados. Sendo assim, procuraremos analisar o sério risco que representa esse equivocado ataque ao nosso sistema de saúde público.

A verdade é que os problemas enfrentados ou apresentados pelo SUS são os mesmos dos planos privados, só que o primeiro atende um universo enquanto que os segundos atendem a um microcosmo quando comparado aquele. Disso decorre a diferença quando se compara determinado plano de saúde privado com o SUS. Via de regra, vão dizer que o atendimento do privado foi mais rápido ou mais eficiente que o do SUS e por aí vai. Mas como comparar quem atende alguns que o escolheram e podem pagar com um sistema que não pode escolher nem discriminar a quem vai atender?

Nossa memória é curta, mas se nos esforçarmos vamos lembrar que há bem pouco tempo passado não havia o SUS e somente tinham algum tipo de atendimento de saúde aqueles cidadãos que dispunham de carteira assinada e contribuíam para o antigo INAMPS, hoje INSS, ou que contribuíam com plano privado. Realmente era o caos. E mais que isso, a imensa maioria dos cidadãos brasileiros não tinha qualquer garantia de acesso a serviços de saúde por mais básicos que fossem. Para acabar com essa realidade é que surgiu o SUS. Como um sistema único, universal, hierarquizado e que promove a equidade nos serviços de saúde do Brasil.

Parece estranho mas é essa a verdade. A estrutura da rede privada depende do SUS. Não há um plano privado sequer no Brasil que disponha de tal estrutura capaz de atender a demanda por serviços de saúde sem acessar os equipamentos do SUS. São raríssimos os planos privados que dispõem, por exemplo, de um hospital próprio para atender seus clientes. E se o tem é um ou outro hospital aqui ou ali e não uma rede de hospitais em cidades-pólo ou muito menos em cidades de médio e pequeno porte.Aliás, a maior parte dos serviços prestados por planos privados é realizado utilizando-se equipamentos, hospitais, laboratórios e profissionais sustentados pelo SUS. Quando um plano de saúde privado qualquer lhe encaminha para uma cirurgia no hospital de sua cidade ele está utilizando-se do bloco cirúrgico, da estrutura de apoio, e do laboratório bancado pelo SUS. Enfim, quem aposta contra o SUS, pode literalmente quebrar.


* Julio Dorneles é professor, especialista em administração pública e diretor executivo do Pró-Sinos. Foi Secretário Municipal de Saúde e diretor administrativo do Hospital São Camilo.

Um comentário:

Paula disse...

muito bem!! aqui os americanos acham demais o SUS, acham que está muito certo que o brasil tenha isso que uma vergonha que eles não tenham.

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